sábado, 18 de julho de 2009

A História de Nossa Senhora

História de


NOSSA SENHORA



Amigo,

“Quando alguém segue Maria,
não se desvia;

quando lhe dirige uma prece,
não se desespera;

quando pensa nela, fica feliz”.

“Uma mulher foi o primeiro
sacrário do

Verbo de Deus”.







História de


NOSSA
SENHORA













ÍNDICE

Abençoando ........................................................... 11

Pulchra es ........................................................... 13

Explicação do Autor ............................................... 15
1

Maria ........................................................... 17


2

A Virgem Maria ....................................................... 21


3

Santa Maria Mãe de Deus - O nascimento de Jesus ............................................ 27


4

Circuncisão, Purificação e Fuga para o Egito ......................................................... 32


5

Na obscuridade de Nazaré ............................................................................... 37


6

Em Caná, o milagre solicitado por Nossa Senhora ................................................ 44


7

O adeus do Filho à Mãe Santíssima ....................................................................... 46


8

Maria ao pé da Cruz ............................................................................. 48

9

Depois da Ascensão do Senhor ............................................................................. 53


10

Advogada e esperança nossa ................................................................................ 55


11

O culto de Nossa Senhora nos primeiros séculos do Cristianismo ...................... 60


12

O culto de Nossa Senhora no primitivo Portugal .................................................... 64


13

A poesia das lendas referentes a Nossa Senhora .................................................. 68


14

Nossa Senhora da família e das artes .................................................................... 72


15

O mês de Maria ............................................................... 77


16

Nossa Senhora no Brasil .......................................................................... 80


17

Ainda Nossa Senhora no Brasil ........................................................................... 84


18

Ideal .......................................................................... 86


19

As Congregações Marianas ....................................................................... 90









PULCHRA ES




Como és bela, Maria! Como és bela!
Flor do campo, de graças orvalhada,
Desde a manhã, esplêndida donzela,
De tua Conceição Imaculada



Quando de estrelas Deus o céu constela,
Povoa a terra, alegre se revela
Ao contemplar sua obra abençoada.



Mas quando te criou Virgem Maria,
Mais linda que as estrelas e que as flores,
Te desferiu este hino de alegria:



Tu és o lírio, o sol, a lua, a aurora!
Em ti mancha não há! Dos meus primores
És o primor que mais beleza irrora!






Dom Oscar de Oliveira
ex-Arcebispo de Mariana, MG











Adaptação, compilação e montagem geral:









Lupercio Reis Neto





Simplesmente por Amor a





Nossa Senhora





Obrigado por tudo, Mãe!


1




Maria



No tempo de Jesus era comum na Palestina o nome Maria, que significa Senhora, segundo interpreta São Jerônimo.

Muitos séculos antes, existira uma única pessoa com esse nome, a irmã de Moisés, o libertador e legislador do povo de Israel: Myria ou Mirian, significando, nessa antiga forma, a “a amada de Deus”.
Maria, a mãe de Jesus Cristo, é por excelência amada de Deus, a Senhora – Nossa Senhora.

Maria é a mais bela e gloriosa das criaturas, não só devido a sua formosura espiritual, como ao privilégio sem par de haver sido escolhida para Mãe do Filho de Deus feito homem.

Nada contam os Evangelhos a respeito do nascimento e infância de Maria. Mas o que dela dizem excede em beleza e glória a história do mais importante personagem que, além de Cristo, viveu neste mundo.

De Maria contam os Evangelhos a Anunciação, quando ela concebeu virginalmente a segunda pessoa da Santíssima Trindade – o Filho de Deus, sua caridosa visita à prima, Isabel; o nascimento do menino Deus na gruta de Belém; a apresentação da Divina Criança, no Templo, quarenta dias após seu nascimento; a fuga para o Egito; o encontro com o Menino, então com doze anos, perdido, no Templo de Jerusalém, e a vida obscura em Nazaré. Mencionam, mais, a intervenção caridosa da Mãe de Jesus num casamento – as Bodas de Cana; tratam de Maria aos pés da Cruz, Maria unida aos apóstolos no cenáculo de Jerusalém, após a Ascensão de Jesus ao Céu, esperando e recebendo o Espírito Santo no dia de Pentecostes.

Tradicionais são os nomes dos pais de Nossa Senhora: Joaquim e Ana; o primeiro é festejado pela Igreja no dia 16 de agosto e o segundo a 26 de junho.

Que poesia tem o grupo de duas imagens, de feitura tradicional, bem portuguesa, espalhado por igrejas e capelas do Brasil, representando a Senhora Sant´Ana assentada em nobre cadeira de espaldar, e Maria, menina, de pé, ao lado da mãe idosa que lhe ensina o alfabeto!









Pretende a tradição, que Maria ainda bem criança tenha sido conduzida por seus pais ao serviço do Senhor, no Templo de Jerusalém, onde se internara por alguns anos.


Talvez lá por seus catorze anos, conforme o uso de então, entre os judeus, tenha Maria desposado José, que, provavelmente, andava pela casa dos vinte e cinco anos.

Não era José um venerando velho de cabelos e barbas brancas, como o pintou Guido Reni, ao casar-se com Maria. Era, sim, um homem maduro de virtudes – casto, prudente, caridoso, piedoso, a ponto de merecer receber por esposa a mais santa e mais perfeita das virgens. Tinham, ambos, o propósito de guardar perpétua virgindade.

Não passa de lenda, embora poética, a cena retratada no célebre quadro de Rafael Sanzio sobre o casamento de Nossa Senhora, com São José, perante o Sumo Sacerdote, belamente paramentado, de barbas cor de neve, longas, em frente de majestosa igreja. Segundo a lenda, seria o eleito para casar-se com a formosa donzela o jovem que apresentasse no templo um galho seco que florescesse milagrosamente.







Pobres e modestos eram Maria e José, de nobre linhagem, descendentes, ambos, do rei Davi. José, como vaticinara o profeta Isaías, era “um ramo saído do tronco de Jessé, rebento brotado das suas raízes”. E se prosseguirmos na linha genealógica, chegaremos até Booz, o bondoso e rico varão que, cerca de mil anos antes de nascer Davi, havia desposado a virtuosa viuvinha Rute, na pequenina Belém – “a casa do pão”.


Salve, pois, a Esposa e Virgem, a cujo nome aplicamos a terna expressão do “Cântico dos Cânticos”: é brando como um aroma.
















2



A Virgem Mãe





Eis a Virgem Maria em sua humilde aldeia de Nazaré. Achava-se, talvez, em seu modesto aposento, quando se lhe aproximou um mensageiro celeste – o anjo Gabriel – a fim de pedir-lhe o seu consentimento para ser Mãe do Filho de Deus humano.

Insignes pintores têm rememorado esse acontecimento, dando asas à fantasia ao representar a Anunciação num ambiente majestoso e solene. Em verdade foi tudo muito simples, embora de transcendental significado.

Dissera-lhe o anjo: “Eu vos saúdo, cheia de graças; o Senhor é convosco; bendita sois entre as mulheres”.

Ante aquela aparição e aquelas palavras, perturbou-se Maria; mas o anjo a acalmou, explicando-lhe: “achastes graça diante de Deus; ides conceber, dareis à luz um filho a quem poreis o nome de Jesus. Ele será grande e chamar-lhe-ão o Filho do Altíssimo. O Senhor lhe dará o trono de Davi, seu pai, e ele reinará eternamente na casa de Jacó”.

“Como poderá acontecer isto, replicou a Virgem, se eu não conheço nenhum homem?” Uma expressão hebraica com que Maria manifestava seu propósito de perpétua virgindade.

Mas o anjo lhe explicou a concepção milagrosa. “O Espírito Santo descerá sobre Vós; o poder do Altíssimo cobrir-vos-à com a sua sombra. E por isso o Santo que de vós há de nascer, será chamado o Filho de Deus”.

A esperança do Messias acalentava a alma de Maria; por isso compreendeu que através dela pudesse brotar a nova geração de Davi.









Confirmou-lhe o anjo, como sinal do prodígio que nela se realizaria, que sua parenta Isabel, apesar de idosa, dentro de três meses teria uma criança!


“Eis que Isabel, tua parenta, concebeu um filho na sua velhice. E este é o sexto mês da que se dizia estéril, porque a Deus nada é impossível”.

Maria submeteu-se, então, à vontade divina, manifestando ao Anjo seu pleno consentimento:

“Eis aqui a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a vossa palavra”

Ouvindo isto, afastou-se o mensageiro celeste.

Naquele mesmo instante descia sobre ela o Verbo de Deus, Segunda Pessoa da Santíssima Trindade. De sua carne e de seu sangue, a Virgem gerou Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem. A natureza divina se unia à natureza humana (a um corpo e alma humanos), formando uma única pessoa; a pessoa do Homem Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo.

Sobre a cabeça de Maria, à coroa da virgindade sobrepõe-se outra formosíssima coroa – a da maternidade divina. Virgem e Mãe!


Depois Maria empreendeu grande jornada, indo de sua província da Galiléia à da Judéia, num percurso aproximadamente de 150 quilômetros, a visitar sua prima Isabel, que morava na montanha de Hebron.

Ao ouvir, Isabel, carinhosas palavras de saudação, de Maria, sentiu que o menino que trazia, o futuro João Batista, estremeceu de alegria, e iluminada pelo Espíritio Santo retribuiu a saudação de Maria, reconhecendo nela a Mãe de seu Senhor e seu Deus:

“Bendita sois entre as mulheres e bendito é o fruto de vosso ventre. E donde a mim esta dita, que a mãe do meu Senhor venha ter comigo? Porque logo que a voz da vossa saudação chegou aos meus ouvidos, o menino exultou de alegria no meu ventre. E bem-aventurada sois, que crestes, porque se hão de cumprir as coisas que da parte do Senhor vos foram ditas”.

“No mesmo instante, o espírito da profecia apoderou-se, também, da jovem visitante. Para agradecer ao Altíssimo, que acabava de fazer esplandecer a sua glória, deixou-se arrebatar pelo canto. O Hino brotou dos seus lábios, um desses hinos magníficos de que tanto gostava a tradição israelita, animado pelo ritmo, amparado por todo um jogo de oposição de termos e de cadências, impregnado de reminiscências e que veio a ser esse hino litúrgico de que a Igreja ainda se serve, para afirmar do fundo da sua humildade, o orgulho da sua eleição”, como diz Daniel Rops.

No cimo das evocativas montanhas da Judéia, a poetisa nazarena ergueu aos Céus o Magnificat - esse canto de gratidão e de alegria, de fé e de amor, de humildade e esperança.


A minha alma glorifica o Senhor e meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador, porque lançou os olhos para a humildade de sua serva.


Eis que, de futuro, todas as gerações me chamarão bem-aventurada, porque fez em mim grandes coisas o Todo-Poderoso, aquele cujo nome é santo.




A sua misericórdia estende-se de idade em idade, sobre aqueles que lhe são submissos. O seu braço poderoso afasta os orgulhosos e apeia do trono os potentados.

Mas eleva os humildes e cumula de bens aqueles que têm fome, e despede os ricos, levando vazias as mãos.

Voltando a lembrar-se da sua misericórdia, tomou cuidado de Israel, seu servo, conforme prometera aos nossos pais; e protege para sempre os filhos de Abraão.
























SANTA MARIA MÃE DE DEUS



O nascimento de Jesus









Ficou Maria três meses com sua parenta Isabel, voltando depois para a sua casa de Nazaré. Havia três meses que a Virgem Maria, noiva de José, esperava o menino.

José, como dissemos, era noivo de Maria quando esta concebeu por graça do Espírito Santo o filho de Deus feito homem. O noivado de Maria e José não corresponde ao simples contrato de futuro casamento, como se usa entre nós. Entre os hebreus, os esponsais ou noivado, eram bem mais próximos do casamento, conferindo todos os direitos, exceto de coabitação. Durante alguns anos a donzela ficava antecipadamente colocada sob a jurisdição daquele com quem estava comprometida.

A fidelidade era de estrita obrigação em tal estado pré-nupcial e a infiel era tida por adúltera e se fosse denunciada pelo noivo sofria a pena de morte.

Quando Maria concebeu, José, seu noivo, sendo justo e não a querendo difamar, resolveu deixá-la secretamente. Ora, andando ele com essa idéia, eis que um anjo do Senhor lhe apareceu em sonhos, dizendo-lhe:

“José, filho de Davi, não temas receber Maria como tua esposa, porque o que nela foi concebido é (obra) do Espírito Santo. E dará à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos seus pecados. (Mateus 1, 19-23).

Que nobre a atitude de José, não querendo denunciar a sua jovem prometida! Não compreendia a situação, embora confiando na pureza e fidelidade de Maria. Por sua vez, a Virgem, na sua humildade, não revelara ao casto noivo a maravilhosa obra de Deus daquela concepção virginal: confiava em que o próprio Deus lhes desvendasse o sublime mistério.








“Naqueles dias saiu um edito de César Augusto para que se fizesse o recenseamento de todo o mundo...”



A Palestina, sob a proteção de Roma, deveria ater-se à ordem imperial. Mas a inscrição não se fazia no local de residência, mas na terra da família da qual se descendia. Assim, José, da família de Davi, originária de Belém, na província da Judéia, rumou do norte da Palestina a cumprir a lei (ver se não tem um mapa nas Bíblias dessa época ou dessa região...) do imperador romano. Partiu com Maria, já às vésperas de ser mãe. Maria, foi, talvez cavalgando um jumentinho num caminhar vagaroso, e o esposo a pé. Transpuseram a Judéia, atravessaram a província de Samaria. Que emoção ao reverem Jerusalém – a cidade santa!

Duas horas depois da travessia de Jerusalém, chegaram a Belém, que naquele tempo teria uns dois mil habitantes. Era aí que viria a nascer o Salvador, como lhe havia vaticinado o destino feliz, o profeta Miquéias: “E tu, Belém, a fértil pequenina entre os milhares de outras de Judá, tu não és a menor, pois de ti sairá o chefe que há de reinar sobre o meu povo de Israel, aquele cuja geração ascende aos velhos tempos, aos dias da eternidade”. (Miquéias 5, 1 ).

À entrada de Belém existia vasta construção que São Lucas chama de “hospedaria”. Era um lugar nada confortável constituído de um curral onde se amontoavam os animais, e, anexa, uma construção de madeira com quartos minúsculos e raros, alugados a bom preço. Diz o Evangelista que não havia mais lugar naquela estalagem. Estava repleta. Talvez não só dos que chegaram a Belém para recensear-se, como de vendedores ambulantes, vindos de longe com o fim de comprar trigo e vender queijos, etc. No cercado, os burros zurravam, berravam os carneiros, relinchavam os jumentos e os camelos. Um grande vozerio de gente disputando lugares. A Sagrada Família precisava de calma. “E então, ali (diz São Lucas) aconteceu completarem-se os dias em que devia Maria dar à luz”.

Portanto, o tempo urgia.

Diz a mais antiga tradição, que José instalou a esposa numa gruta. Num curto versículo, resume São Lucas o fato a um tempo simples e prodigioso:
Deu à luz o seu filho primogênito, o enfaixou e o deitou numa manjedoura.

A frase deixa entrever que Maria estava só, sem assistência de nenhuma mulher.


Maria meditava no grande mistério e a Divina Criança apareceu misteriosamente em seu regaço, permanecendo assim a sua virgindade também no parto.

Mas a grande cena não iria passar-se em obscuridade.

“Não longe havia uns pastores que passavam a noite nos campos a




guardar os seus rebanhos. Eis que apareceu junto deles um anjo do Senhor e uma
claridade divina os cercou e tiveram grande temor. Mas o anjo lhes disse: Não temais, porque eis que vos anuncio uma grande alegria, que será de todo o povo. Nasceu-vos na cidade de Davi um Salvador, que é o Cristo Senhor. E eis o sinal: encontrareis um menino envolto em panos e deitado numa manjedoura. E subitamente apareceu com o anjo uma multidão da milícia celeste louvando a Deus e dizendo: Glória Deus no mais alto dos Céus e paz na terra aos homens de boa vontade!”

Desaparecido o anjo, os pastores foram ver o acontecido e encontraram Maria, José e o recém-nascido deitado numa manjedoura – um coxo largo onde se depositava feno para os animais. Os humildes pastores foram os primeiros a visitar e homenagear aquele que seria o Bom Pastor, e dali saíram glorificando e louvando Deus. E Maria, abismada na contemplação daquele insolúvel mistério, guardava com cuidado aquelas coisas no coração (Lucas 2, 1-20).




































4




Circuncisão, purificação

e fuga para o Egito





E depois que se completaram oito dias para ser cincuncisado o menino, foi-lhe imposto o nome de Jesus (Lucas 1, 21).

O que se fazia nos meninos era o cumprimento de uma obrigação legal, pela qual era ele consagrado a Deus. Ordenara-o Deus em recordação da graça concedida naquela noite em que fulminara com a morte as crianças do Egito e poupara as de Israel.

Jesus não estava obrigado a isso, mas José e Maria cumpriram fielmente a disposição legal, fazendo realizar num ambiente de muita simplicidade a rudimentar operação e nesse momento impuseram à Divina Criança, segundo fora indicado pelo anjo Gabriel, o nome de Jesus, que significa Deus é nossa salvação.


Uma outra lei de Moisés impunha às mulheres que tivessem dado à luz, ir ao Templo para a purificação, quarenta dias após o parto, se a criança fosse do sexo masculino. Maria e José dirigiram-se, pois a Jerusalém, para humildemente atender a lei. Deu-se, então, um fato muito significativo: havia em Jerusalém um homem justo e temente a Deus, que, avisado, pelo Espírito Santo, se dirigiu ao Templo, justamente no momento em que o humilde casal, perdido em meio à multidão, conduzia o seu filho pequenino. Era Simeão, a quem Deus prometera que ele não morreria sem contemplar com seus próprios olhos o Messias tão ansiosamente esperado.

Chegando ao Templo, Simeão viu nos braços de uma jovem mãe a criança que reconheceu ser o seu Senhor e seu Deus, e tomando-a, cheio de comoção, desferiu este canto de júbilo e de agradecimento:

E agora, Senhor, deixai partir o vosso servo em paz, segundo a vossa palavra, pois que meus olhos viram a Vossa Salvação, o que preparastes ante a face das nações, a Luz que dissipará as trevas dos povos, a glória dos filhos de Israel (Lucas 2,29-32).

Apenas acabava de proferir o formoso hino, profetizou aos ouvidos de Maria estas palavras cortantes, que, por certo, arrancaram lágrimas amargas à Mãe Santíssima: Este vem ao mundo para ruína e para ressurreição de muitos em Israel e para ser alvo de contradição. E uma espada de dor trespassará a tua alma, afim de se descobrirem os pensamentos escondidos nos corações de muitos (Lucas2, 33-35).


















































Completando as palavras de Simeão, uma velhinha de 84 anos, viúva, chamada Ana, que não se afastava do Templo, servindo a Deus, noite e dia, com jejuns e orações, também ela chegada naquele momento e dotada do dom da profecia, louvava o Senhor e falava dEle a todos os que esperavam a redenção de Israel (Lucas 2, 36-38).














A Sagrada Família já não se achava mais na gruta; alojava-se em humilde casa de Belém. Até a habitação vieram de longínquas terras do Oriente, os MAGOS, sacerdotes ou homens dedicados ao estudo dos astros, a glorificar o Altíssimo.

“Uns Magos chegaram do Oriente a Jerusalém. – Onde está, perguntaram, o rei dos Judeus, que acaba de nascer? Porque nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-Lo”.

Tinham os Magos conhecimento do fato pelo contato com as Sagradas Escrituras. Detiveram-se em Jerusalém, por terem perdido de vista a estrela extraordinária. Herodes, ao ouvir o relato, fingiu interessar-se, também ele, em homenagear o “rei dos Judeus”, que havia nascido.

Mas “rei dos judeus” não se considerava ele, Herodes? Ah! Iria matar esse futuro usurpador e já arquitetava sinistros planos.

A estrela singular reapareceu aos Magos e eles a seguiram até Belém, até a casa modestíssima, onde encontraram uma criança como outra qualquer, sem raios de luz, sem auréolas, docemente colocada nos joelhos de sua jovem mãe.

Os magos adoraram o menino. E abrindo os seus tesouros, lhe ofereceram ouro, incenso e mirra. E, tendo recebido aviso, em sonhos, para não tornarem a Herodes, voltaram por outro caminho para o seu país (Mateus 2, 1-2).

A Sagrada Família continuou em sua pobreza. Que teria feito dos presentes, principalmente do mais valioso deles, o ouro? Nada nos diz a Escritura. Por certo, os pobres foram os beneficiados com essas dádivas dos Magos, pelas mãos de Maria.

Mas José foi avisado, em sonhos, dos propósitos de Herodes e aconselhado a partir imediatamente para o Egito.

Sem demora a santa família pôs-se a caminho, cheia de fé no poder divino, bem compreendendo que Deus se fizera fragilidade humana para salvar a fraqueza do homem. No Egito deve ter permanecido entre oito a dezoito meses. Falecido Herodes, tornaram Jesus, Maria e José à sua pátria.











5






Na obscuridade de Nazaré















A Galiléia é a terra da infância, adolescência e mocidade de Jesus. A terra onde se preparou, na oração, para o apostolado, a terra onde as suas mãos se calejaram no trabalho humilde, como ajudante do operário José, seu pai adotivo, ao lado da mãe que lhe tecia a túnica e lhe preparava o alimento.

“Das alturas que dominam Nazaré, o olhar descortina uma paisagem magnífica. A planície de Esdrelon essa Califórnia da Palestina, exibe os seus tabuleiros de tons castanhos, ocres, amarelos e as aquarelas onde se combinam as mais diversas gradações do verde. Ao longe, cintila o Mediterrâneo, anil e prata. Para o norte, o Hermont, de refegos violáceos, ergue, acima das colinas, a sua coroa de neve, enquanto, mais próximo, suavemente, sobre um leito de verdura desbotado, o Tabor exibe o cume imponente, esse monte do qual São Jerônimo elogiava a harmoniosa esfericidade. Para o sul, os montes da Samaria alargam-se de forma a abrigarem Erganim e seus encantos. Junto às alturas da Decápole, escancara-se o profundo desfiladeiro em que dormirá, escondido, o lago de Tiberíades, donde, por vezes, sobem ligeiras neblinas. Toda a Galiléia dá um impressão de abundância e de beleza, que contrasta com a severidade de Judá” - disse Daniel Rops, tão bem.

Foi dali que, após quase 30 anos de vida oculta, partiu Jesus, no inverno do ano 27, para Béthabara, junto do rio Jordão, a estar com o precursor João Batista, depois Semeador Celeste a lançar nos corações a semente da vida eterna.

Logo ao voltar do Egito, fixou-se a Sagrada Família na pequenina cidade de Nazaré. Quem lê atentamente os Evangelhos, vê, logo, que só um filho, Jesus, vivia com Maria e José. E este aos doze anos foi levado por seus pais, pela festa da Páscoa, ao Templo de Jerusalém.
















Os concidadãos de Jesus chamavam-no o filho de Maria e o próprio Renan interpreta tal forma de expressão como prova de que Jesus era, realmente, o único filho de Maria. E ainda: se Jesus tivesse outros irmãos, moribundo na Cruz Ele confiaria sua mãe a um deles e não ao discípulo João. Na Bíblia se fala de irmãos do Senhor. Mas irmãos no sentido lato, ou seja, primos ou parentes. Não só a língua hebraica como a moderna polonesa usam o termo irmão para significar, também, primos germanos.


Maria permaneceu, pois, sempre virgem até os seus últimos dias.


Narra São Lucas o incidente da perda de Jesus menino no Templo e o seu encontro, após três dias de aflitiva procura. José e Maria o encontraram entre os doutores da Lei, ouvindo-os e interrogando-os, ficando, todos, maravilhados da Sua sabedoria e das Suas respostas. E Maria, docemente lhe chamou a atenção: “Filho, por que procedeste assim conosco? Eis que teu pai e eu te procurávamos cheios de aflição”. Retrucou-lhe Jesus que, acima do amor terreno estava o amor ao Pai celeste a quem cumpre obedecer em primeiro lugar: “Para que me buscáveis? Não sabíeis que devo ocupar-me das coisas de meu Pai?”

Não compreenderam eles o alcance desta resposta; imediatamente Jesus os acompanhou até Nazaré, onde sempre lhes obedecia (Lucas 2, 41-52).

Corriam os anos e Jesus crescia em tamanho e em sabedoria, isto é, ia progressivamente demonstrando seus conhecimentos, como Filho de Deus, e sua experiência como homem, vivendo naquele ambiente nazareno.

Após o incidente da perda do menino no Templo, não falam mais os Evangelhos da pessoa de José. Conclui-se que Nossa Senhora tenha ficado viúva quando Jesus ainda convivia com ela e José, pois que, mais tarde, ao pé da Cruz, assistindo à agonia de Jesus não estava José, enquanto Maria, num mar de dor, participava dos tormentos do Divino Filho.

Morto José, a Jesus tocou o ônus de amparar e sustentar sua Mãe, executando o mesmo trabalho de seu pai adotivo, que não era, apenas, o de carpinteiro. O operário era, então, homem de vários ofícios: carpinteiro, pedreiro, ferreiro, etc.

“O lavrador, o ferreiro, o pedreiro, o carpinteiro, são os operários cujas artes manuais se encontram mais associadas à vida humana, as mais inocentes e as mais religiosas”, - observou Papini.

Com seu trabalho manual, conseguiu Jesus meios para se alimentar e à sua Mãe. E a alimentação do povo galileu era o pão de cevada, leito coalhado, muito pouca carne, hortaliças e, nos dias de festa, “peixes grelhados que fertilizam o organismo do homem”, como diziam os Rabis.

Mas chegou o tempo, determinado pelo Pai Celeste, de Jesus peregrinar pela Palestina a pregar a boa nova. Era-lhe penoso deixar a sua Virgem Mãe, só, em sua modestíssima casa de Nazaré, mas cumpria-lhe atender preferencialmente a

disposição do Eterno Pai.















No período de cerca de três anos que Jesus empregou para semear as verdades eternas, raríssimas vezes narram os Evangelhos algum encontro com Maria. Lá estava, em sua casa, a Mãe boníssima, cheia de saudades de Jesus, mas compreendendo a missão do Filho obediente, “conservando todas essas coisas no seu coração”.















Antes, porém, havia Ele ido até o rio Jordão, em Béthabara, para receber o batismo das mãos de João Batista, filho de Isabel, prima de Maria. E em forma de pomba o Espírito Santo desceu sobre Ele, enquanto João o proclamava filho de Deus, e do Céu vinha uma voz:

Este é o meu filho bem amado sobre o qual pus toda a minha complacência.

Seria a pedido de Maria, que Jesus haveria de fazer o primeiro grande milagre público, talvez para mostrar que atendia e atenderia, sempre, a qualquer desejo de sua santa Mãe, nossa Mãe, também, que Ele nos haveria de dar, ao expirar no lenho da cruz.













6


Em Caná, o milagre solicitado

por Nossa Senhora






Maria fora convidada a assistir a um casamento em Cana, lugarejo a cerca de meia légua (QUANTOS METROS???????) de Nazaré. Presume-se que ela fosse aparentada com os noivos, pois consentiu em dar-lhes a honra de sua presença. Também convidado, Jesus acedeu em comparecer, para assim dar uma demonstração de como tinha em alta conta o casamento – que haveria de elevar à dignidade de Sacramento da Sua Igreja.

Jesus tomou assento, pois, à mesa festiva.

Mas, seja devido à pobreza dos noivos, seja devido ao excesso de convidados, seja por qualquer motivo, o fato é que faltou vinho, o que era considerado, então, indispensável numa festa semelhante, constituindo a sua ausência, motivo de vergonha para os anfitriões.

Foi então que Maria se aproximou de seu filho e, muito baixinho, lhe disse estas palavras:

- “Filho, está faltando vinho”.

- “Mulher, que nos importa isso? Minha hora ainda não é chegada”.

Por que essas palavras?

Simplesmente porque Ele entendia que ainda não havia chegado o momento de realizar milagres públicos. E porque, naquele instante, era ao Deus e não ao homem, seu filho, que Ela se dirigia, já que, evidentemente, estava a solicitar, embora indiretamente, um milagre.

Mas Ela bem conhecia o coração de seu filho. Bem sabia que Ele nada lhe recusaria. Por isso, confiante, disse aos empregados que fizessem tudo quanto Jesus mandasse, por mais estranho que lhes parecesse.

Assim, não se surpreenderam eles quando Jesus, finalmente, disse-lhes que enchessem de água os vasos que ali se encontravam próximos. Nem se espantaram quando, em seguida, Jesus lhes ordenou que apresentassem ao mordomo aqueles vasos cheios de vinho!

O mordomo recebeu os vasos, provou o seu conteúdo e foi depressa felicitar o noivo, declarando-lhe que jamais apreciara vinho tão delicioso.

Era o primeiro milagre de Jesus, realizado na presença de numerosas pessoas.

Segundo São João Evangelista, foi esse o começo dos milagres de Jesus em Cana da Galiléia e foi assim que Ele manifestou a sua glória e que muitos dos seus discípulos acreditaram nEle.

Essa última frase exige uma explicação. Inicialmente, os discípulos teriam sido atraídos para o Mestre por uma força misteriosa e inconsciente que os fez segui-lO como a um profeta superior. Mas, a partir daquele instante reconheceram nEle o verdadeiro Messias e o seguiram como Messias.

Depois disso desceu para Cafarnaum, Ele e dua Mãe, e seus irmãos e seus discípulos; mas não se demoraram lá muitos dias (João 2, 1-12).












7

O adeus do Filho
À Mãe Santíssima




Jesus percorreu diferentes lugares, sempre pregando ao povo, falando por meio de parábolas, freqüentemente, pois esse era o costume da época.

Certa feita, quando voltava a Cafarnaum, uma mulher, adiantando-se da multidão e como se fosse sua intérprete, disse-lhe estas palavras:

- Bendito o ventre que vos teve, o seio que vos alimentou.

Era o cumprimento da profecia: “todas as gerações me proclamarão bem-aventurada” – feita com relação a Nossa Senhora.

- Sim, respondeu Jesus – Mais felizes são, entretanto, os que ouvem a palavra de Deus e a guardam consigo.

Foi em Nazaré que Ele disse as memoráveis palavras: - Ninguém é profeta em sua terra. Com efeito, na sinagoga, a sabedoria divina dos seus discursos apenas irritou os que não desejavam ver nEle mais do que o filho do carpinteiro José...

Jesus deixou definitivamente a terra natal e voltou-se na direção do lago, tendo conhecimento, então, do martírio de São João Batista. Depois, peregrinou pela Fenícia, pregou em Tiro, Sidon e Cesaréia. Foi por ocasião de sua última viagem pela Galiléia que Ele anunciou claramente a Sua morte.

A ressurreição de Lázaro, que deveria atirar Jerusalém aos seus pés, serviu para que contra Ele mais se acirrassem ódios de fariseus.

Às vésperas de sua morte, não nos dizem os Evangelhos, mas podemos conjecturar que Jesus abraçou longamente sua Mãe, como que lhe dizendo adeus. Depois, acompanhado dos discípulos, o Mestre penetrou no cenáculo para celebrar a última e a primeira ceia: a última ceia judaica e a primeira ceia cristã, instituindo, então, o Sacramento da Eucaristia e a Santa Missa, como antecipação do sacrifício cruento do Calvário.

Referindo-se a este ato, não falam os Evangelhos da presença de Maria, mas, por certo, após a Ascensão de Jesus os Céus, Maria se consolava ao assistir as Missas celebradas por São João Evangelista e receber na Sagrada Comunhão Aquele que ela virginalmente gerara.














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Maria ao pé da Cruz






Jesus foi alvo de entusiásticos tributos de louvor das multidões encantadas com a sua doutrina de caridade e de amor ou pelas realizações de estupendos milagres.

Na sua entrada triunfal em Jerusalém, não nos diz a Bíblia ter Ela presenciado as glórias e hosanas ao Filho de Davi, mas na hora de sua derrota aos olhos do mundo, na hora de seu ignominioso martírio e de sua morte crudelíssima, lá estava Maria, Mãe do condenado e do Crucificado.

A Sagrada Escritura não fala propriamente do encontro de Maria com Jesus em alguma rua de Jerusalém, a caminho do Calvário. Disso há uma tradição antiqüíssima que a “Via Sacra” lembra na sua IVª Estação. E em Jerusalém, uma igreja armênia, semi-arruinada, comemora o Encontro de Jesus com sua Mãe Santíssima na “Rua da Amargura”.

Lembremos Maria no tétrico cortejo, a caminho do calvário. À frente, o centurião, de couraça; atrás, os soldados de cotas de malhas. As clânudes vermelhas dos legionários com seus capacetes brancos sobressaíam entre os trajos brancos, cinzentos ou azuis dos judeus.

Jesus, majestoso na sua humildade e paciência, sem se lastimar, vergado sob o peso da cruz, caminhava após uma noite indormida, de agonia, de açoites e contusões! Que palavras poderão retratar as dores de Jesus e de Maria no momento desse encontro? Não trocaram uma palavra, sequer; mas o encontro dos dois olhares, o mar de lágrimas que deles correu, testemunhou a imensidade do sofrimento de ambos.













Uma espada de dor varou a alma de Maria!

Os sofrimento e a morte de Jesus foram causados pela humanidade inteira, pelos pecados dos homens. Pilatos, os soldados romanos e alguns judeus daquele tempo foram a causa instrumental dessa Paixão e Morte de Jesus.

Daniel Rops descreveu o suplício da cruz:

“Fixado na cruz, o corpo contraí-se numa tetanização geral; as chagas inflamavam-se; os pulmões, a cabeça, o coração congestionavam-se, agonia tornava-se atroz. Uma sede devoradora queimava as mucosas. Todo o corpo não era senão dor”.

São João Evangelista diz:

Estava de pé junto à cruz de Jesus, sua Mãe.

De pé! Firme, heróica, sublime, a Mãe do Senhor. Não proferiu ela nenhuma palavra de santa indignação. Uma coisa, porém, lhe foi impossível: impedir que de seus olhos irrompesse ardente pranto.

Toda essa dor atroz aceitou-a Jesus, aceitou-a, também, Maria, pois a Cruz iria tornar-se o mais poderoso veículo e instrumento da civilização e da salvação.

Dos lábios do divino moribundo somente saíram palavras de perdão e de graça. Antes de pronunciar a última frase – Está tudo consumado – Filho amoroso não quis que sua Mãe viúva, sem nenhum outro filho segundo a carne, ficasse desamparada e a confiou à dedicação de João, enquanto o discípulo poderia alegrar-se de ter Maria como sua inefável mãe.

Jesus, pois, tendo visto sua Mãe e o discípulo que Ele amava, o qual estava presente, disse à sua Mãe: Mulher, eis aí o teu filho. Depois disse ao discípulo: Eis aí tua Mãe. E desta hora por diante a levou o discípulo para sua casa (João 19, 26-27).

João Evangelista representava, naquele instante, a humanidade. A Igreja colheu para a sua liturgia o famoso hino do Stabat Mater, do século XIII, cuja autoria é atribuída por uns ao franciscano Jacopone, falecido em 1306, e por outros ao Papa Inocêncio III.

São vinte belíssimas estrofes latinas, com várias traduções portuguesas, também em versos.

Entre os poetas lusitanos que cantaram as dores de Maria encontram-se Camilo Castelo Branco, Tomás de Lemos e João Ribeiro. Em


nossa terra merece especial destaque, o poeta de Mariana, Alphonsus de Guimarães, que compôs todo um livro – Setenário das Dores de Nossa Senhora.
































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Depois da Ascensão do Senhor








Depois da Ascensão, isto é, da subida de Jesus ao Céu, em Jerusalém, na presença dos apóstolos e, podemos, pensar, de Maria, também; depois da descida do Espírito Santo sobre os mesmos – Nossa Senhora continuou com os apóstolos, apoiando-os, incentivando-os, animando a todos com o seu exemplo, confortando-os com a sua presença.

A simples vista da Senhora inspirava a fé e excitava a piedade. Bastava contemplar o semblante tão sereno e tão puro da Mãe de Jesus, para que todos sentissem invadir-lhes, imediatamente, uma grande paz interior e uma fé imensa capaz de operar prodígios.

Depois da Ascensão, partiram os Apóstolos e pregaram por toda a parte, confirmando a sua pregação com os milagres que as acompanhavam.

Mas haveria de chegar o dia profundamente triste e doloroso em que Maria deixaria este mundo, em que os apóstolos se veriam privados da sua presença, do seu convívio bendito.

De que maneira Ela partiria?
Nossa Senhora, pelas condições excepcionais em que nascera, pela sua condição de Mãe de Deus, não precisava morrer para subir ao Céu.

Cumprida a missão de Jesus, Ela poderia ter sido conduzida ao Céu, em vida. Mas Deus quis que ela permanecesse na terra para atuar como testemunha de Jesus, para trabalhar, em união com o Espírito Santo, pela Igreja nascente.

Não se sabe quanto tempo após a Ascensão de Jesus conviveu Nossa Senhora com os fiéis. Mas Ela não pertencia a este mundo. Na verdade Ela era de um outro, perfeito, onde não há dor, nem sofrimento, nem pranto. Ela partiria, um dia.


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Advogada e esperança nossa









Nossa Senhora subiu ao Céu através da porta larga da morte, tal qual Seu Filho – como se crê, comumente. Ela bem sabia que a morte apavora a humanidade e quis morrer para servir de exemplo e consolação, como se estivesse justificando, previamente, a parte final da oração que a Igreja completaria, mais tarde, e que é tão expressiva:

“Rogai por nós, pecadores, agora e na hora de nossa morte”...

Maria rejubilou-se quando viu chegado o dia de voar ao Céu, pois não tardaria muito mais, finalmente, a encontrar-se lado a lado, e permanentemente, com Jesus, o Filho pelo qual sua alma suspirava, como tão bem disse José de Anchieta, no poema maravilhoso que primeiro escreveu nas areias de Iperoig, quando refém dos índios e que mais tarde transportou para o papel:

“Vem, ó meu filho!
Suspira por ti tua mãe e te suplica.
Saiamos já às celestiais campinas.
Desejo passear contigo pelo jardim dos astros,
demorar-me em teus eternos paços.
Tu és a sede do meu peito,
a fome de minha alma.
Desejo o meu olhar fruir em ti, sem peias.
Ergue-te, pois, vem curar tua querida mãe;
trago no peito uma chaga de amor,/
não vivo sem ti,
sem ti não descanso, ó meu filho!
Vem, ó vida, ó descanso de tua mãe!
Mostra-me o teu rosto,
levanta o véu de teus divinos olhos
ao meu seguioso olhar” (*)





Então, um dia, Nossa Senhora cerrou piedosamente os olhos para a vida terrena.








Depois aconteceu a Ressurreição e a Assunção. Nossa Senhora subiu aos Céus para tomar lugar ao lado de Deus Pai e de Jesus. Para tornar-se a grande esperança da humanidade, a medianeira, a advogada dos pecadores.

Salve, rainha, Mãe de misericórdia, vida, doçura, esperança nossa, salve.

A vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas, os degredados filhos de Eva. Ei, pois, advogada nossa, os vossos olhos misericordiosos a nós volvei. E depois deste desterro mostrai-nos a Jesus, bendito fruto de vosso ventre, ó clemente, ó piedosa, ó doce e sempre Virgem Maria !


Advogada poderosa é Nossa Senhora, porque Jesus nunca recusou nada à sua Mãe, como disse Anchieta, numa das passagens do seu mencionado poema:

“Pede, portanto, ao Pai, estremecida Filha;
pois quanto quiser a Filha,
tanto fará o Pai.



(*) Pe. José de Anchieta, S. J. – O Poema da Virgem – Tradução e notas do Pe. Armando Cardoso, S.J. – Edições Paulinas.



Pede, portanto, ao Filho, ó Mãe bondosa,

pois quanto quiser a Mãe
tanto fará o Filho”...



















No dia 1º de novembro de 1950, o Santo Papa Pio XII, em meio de soleníssima liturgia na Basílica de São Pedro, em Roma, definiu como verdade de fé ter a Virgem Mãe de Deus subido ao Céu de alma e corpo.













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O culto de Nossa Senhora

nos primeiros séculos

do cristianismo













“Que saudades da Mãe de Deus não sentiram os apóstolos e seus primeiros cristãos quando foi ela assunta ao céu, acompanhada de coros angélicos!”

Com essas palavras o piedoso Arcebispo de Mariana, Dom Oscar de Oliveira, começa interessante trabalho que escreveu para o jornal de sua arquidiocese e que para aqui transcrevemos.

“Tais cristãos – continua o prelado – cultivaram carinhosamente a lembrança de Maria Santíssima, ressaltando seus privilégios decorrentes da maternidade divina.

As doutrinações sobre Maria e seu culto, logo posteriores, demonstram que tais verdades já eram vividas bem antes.




Efetivamente no começo se fazia necessária certa precaução no tocante ao culto de Nossa Senhora por causa dos néo-convertidos do paganismo, habituados que tinham sido ao culto materializado e idolátrico das deusas do mundo antigo. Assim, por exemplo, Santo Epifânio se vira obrigado a censurar os árabes colidirianos que tentaram deturpar a legítima veneração à Mãe de Deus com grosseira adoração.


Tão pura de corpo e de alma, tão poderosa, a intercessão da privilegiada Senhora junto de seu divino Filho goza de grande poder. Se aqui na terra apressou Maria a realização do primeiro milagre de Cristo, nas Bodas de Cana, intercedendo por aqueles modestos noivos, como não há de interceder por nós na glória do Céu?














Por isso os primeiros cristãos lhe tributavam especial veneração, confiantes no seu patrocínio.


A reprodução freqüente da figura de Maria nas Catacumbas romanas, testemunha a presença de Nossa Senhora no pensamento cristão. Lá vemos a Virgem em atitude de Orante, em meio dos apóstolos Pedro e Paulo, dando-lhes a idéia do seu poder intercessor ante seu divino Filho, em favor da Santa Igreja.

Nas Catacumbas romanas de Priscila há pinturas do século II, com cenas da Anunciação, da Adoração dos Magos. No centro está Jesus, mas, a honrá-Lo, Maria se põe a seu lado. Nas de São Pedro e São Marcelino existem pinturas de Maria, do século III, nas quais se contempla a Mãe de Deus sentada numa cadeira adornada, símbolo de sua dignidade.

Já nos primeiros séculos deparamos com festas litúrgicas da Natividade, Anunciação e Assunção da Virgem. Ora, tais celebrações deveriam ser sempre precedidas de fatos ou narrações históricas. Assim, antes de suas instituições, já os cristãos faziam piedosas peregrinações à gruta de Belém, à casa de Nazaré.

Quando o 3º Concílio Ecumênico celebrado em Éfeso, no ano de 431, profligando as heresias de Nestório e seus sequases, definiu a maternidade divina de Maria, o seu culto espalhou-se extraordinariamente e isto sem nenhum caráter de novidade.

No ano seguinte, o Papa Sixto III consagrava em Roma a patriarcal basílica de Santa Maria Maior.

Os documentos litúrgicos mais antigos comemoram Nossa Senhora nas festas dedicadas ao Divino Salvador, como a de Natal, Circuncisão, Epifania, Apresentação no Templo.

A Igreja de Jerusalém celebrava no último decênio do século IV a festa da Purificação concomitantemente com a da Apresentação. Também vemos no século V a festa da Assunção, celebrada a 18 de janeiro. Ainda no mesmo século, a solenidade da Anunciação que se comemorava em março, então primeiro mês do ano civil.

A Igreja de Antioquia festejava, já no século IV, a Natividade. No Oriente, em geral, se fazia com grande pompa, no século VI, a festa da Apresentação de Maria no Templo.

A prece “Sob a vossa proteção nos colocamos, Santa Mãe de Deus” já se encontra num papiro do século III. A da Ave-Maria (sem a Santa Maria) que consta da saudação do Arcanjo Gabriel e de Santa Isabel, era recitada no Oriente pelo menos no século VI. Para maior clareza ajuntaram-se as palavras Maria, no princípio, e Jesus, no fim”.


O Cônego Paulo Dilascio diz que “a invocação de Nossa Senhora se conclui dos escritos dos Santos Padres, desde os primeiros, preocupados em demonstrar e defender as prerrogativas da Santíssima Virgem.


O que cremos de Maria, o que honramos em Maria, é aquilo mesmo, nem mais nem menos, que nossos antepassados na fé creram e veneraram desde a origem da Igreja; a Maternidade Divina e a Maternidade da graça de Maria, a Mãe de Cristo Jesus e a Medianeira da Salvação”.




















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O culto de Nossa Senhora

no primitivo Portugal









É justo, parece-nos, que digamos alguma coisa a respeito do culto de Nossa Senhora no primitivo Portugal, pois foi esse país o descobridor e o colonizador do nosso, dele herdando, nós, tradições, costumes, nomes e religião. Aproveito o ensejo, neste momento, para justificar este capítulo. Desde meados dos anos 70, em diversas pesquisas, tive contato e adquiri o livro Nomes e Sobrenomes, dicionário, que trata da origem e demais peculiaridades de nomes e sobrenomes. Sobre o sobrenome Reis, lá diz o seguinte: sobrenome de origem portuguesa, relacionada aos Reis Magos. Etc etc etc etc. Portanto, é com muito orgulho que trabalhamos os capítulos seguintes.


Retornando à reflexão sobre o primitivo Portugal, fica esclarecido que já nos tempos apostólicos o Cristianismo era pregado na península ibérica. Separando-se o Condado de Portugal, da Espanha, constituiu-se nação no auge das lutas contra os árabes que haviam-na invadido e se assenhoreado de diferentes porções do seu território.


À Lusitânia, antiga província romana, bem cedo chegaram os evangelizadores. São Paulo, na parte final da sua famosa Epístola aos Romanos, em que menciona seus projetos de viagem fala na sua intenção de ir até aquelas remotas regiões.

No século V, Nossa Senhora era festejada na Luzitânia, no pequeno Portugal, que já tinha dioceses organizadas como as de Braga, Lisboa, Évora e Faro.
















E no ano de 997, uma parte da região lusa se intitulava Terra de Santa Maria, hagiotopônimo que não tardou a se estender por uma grande região. Mas, muito anteriormente o país todo venerava Nossa Senhora através de diferentes invocações.


Nossa Senhora, aliás, que, sob o título de Conceição Imaculada, foi padroeira do antigo Reino de Portugal, tem numerosas invocações de reconhecimento ou devoção na alma portuguesa. Não há, com certeza, nenhum outro país onde sejam mais numerosas essas invocações do que na terra portuguesa.

Algumas delas têm a poesia da alma portuguesa; outras não deixam de apresentar um delicioso pitoresco. Todas, porém, refletem a religiosidade do povo, refletem a ancianidade do culto de Nossa Senhora no país.

Nossa Senhora dos Remédios, Nossa Senhora do Leite, Nossa Senhora da Febre, Nossa Senhora do Pranto, da Piedade, das Preces, da Esperança, da Consolação, da Boa Nova, das Necessidades, dos Aflitos, da Ajuda, do Amparo – eis algumas dessas curiosas invocações.

Também a poesia portuguesa, tanto erudita como popular, fez de Nossa Senhora um grande tema de criação e inspiração.

Em sua História do Culto de Nossa Senhora em Portugal, Alberto Pimentel dá o poema de que a seguir transcrevemos uma estrofe, de autoria de João de Lemos, que achamos delicioso e bem expressivo da veneração à Mãe de Deus:

“Ave Maria, que és nossa
Padroeira e crença e Mãe!
Portugal outra não tem,
Mais bela nem que mais possa;
Não quer outra humilde choça,
Nem o palácio real;
Ès nossa, do rei, do povo,
És toda de Portugal”...

Também nas trovas e nos cantares da gente simples, até mesmo em exclamações profanas populares, está presente Nossa Senhora, sempre invocada, sempre exaltada com uma ternura que realmente comove, com uma confiança e uma fé que verdadeiramente emocionam. E nos festejos ruidosos e alegres também ela está presente, como, para somente citar um exemplo, nas festas com que, na província, são recordados os santos do mês de junho.

Nossa Senhora, tão ternura, tão piedade, tão misericórdia, deve ter um sorriso de indulgência, lá do Céu, ouvindo o que dizem homens e mulheres simples, embora nem sempre possa estar inteiramente de acordo com tudo o que ouve...











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A poesia das lendas

referentes a Nossa Senhora








Toda uma série de lendas poéticas e de rara beleza existe tendo como personagem principal a Virgem Santíssima. Durante a Idade Média, quando foi bem acentuado o fervor religioso, tiveram largo curso, nas vozes dos trovadores e menestréis que percorriam os castelos recitando os seus contos e as suas canções, a maior parte dessas lendas tão sugestivas, tão comoventes, algumas delas.

Uma, que muito apreciamos e que não resistimos ao desejo de contar aqui, diz respeito a um humilde saltimbanco, um pobre malabarista que nada possuía de seu, que vagava de cidade em cidade...

Conta-se que num frio dezembro europeu, premido pela noite glacial, bateu à porta de um convento de frades pedindo pousada.











Os frades, naturalmente, abriram-lhe a porta, deram-lhe de comer, indicaram-lhe um lugar onde dormir. Mas era véspera de Natal e no convento a azáfama era grande para os preparativos da grande noite. Além disso, cada frade resolvera confeccionar, com suas próprias mãos, um brinde ou um mimo que ofereceria ao Menino e sua Mãe.

A capela conventual, adornada especialmente, estava com a porta cerrada, ao contrário do que acontecia geralmente. Quando ia se aproximando a hora da cerimônia religiosa que havia sido programada para aquele dia, o frade-guardião ouviu um ruído estranho, esquisito, no interior da capela. O que estaria acontecendo?

Caminhando com cautela, o frade aproximou-se da porta, entreabriu-a com muito cuidado e custou-lhe conter um Oh!... de espanto, mesclado de indignação.

É que lá dentro estava o malabarista. Estendera no chão um pequeno tapete, diante da imagem de Nossa Senhora que trazia o Menino Jesus ao colo, e estava fazendo cabriolas e dando cambalhotas.

- Profanação! - pensou o frade. E correu a chamar o Superior que não tardou a chegar, acompanhado de quase todos os frades. Tal qual o guardião, sem fazer o menor ruído, olharam e viram. Sim, era certo: lá estava o homenzinho fazendo cabriolas!

Então, o Superior abriu de par em par a porta da capela e foi-se aproximando, disposto a expulsar o malabarista, que estava considerando sacrílego. Quando estava bem perto e se preparava para falar, parou estático, atônito, diante do que via e com ele viam os demais frades.

A imagem de Nossa Senhora estava sorrindo para o malabarista. E numa demonstração de que estava apreciando a homenagem - a única que sabia prestar-lhe, a única que poderia dar-lhe o pobre malabarista - tirou dos pés da imagem do Menino Jesus um dos sapatinhos e com suas mãos o atirou ao pobre saltimbanco...





Outra bonita lenda, entre as muitas existentes, tem por cenário o nosso continente, a América do Sul, precisamente a Bolívia, a praia do Lago Titicaca chamada Kjopakavana(*) onde se ergue uma bonita igreja.


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(*) Dessa palavra originou-se Copacabana, que designa a linda praia e bairro do Rio de Janeiro. Afirma-se que pequena imagem foi trazida, por viajantes, na era colonial, da boliviana Kjopakawana.

Conta-se que, há muitos e muitos anos, quando os espanhóis dominavam a região, um pobre índio, chamado Tito Yupanque, que havia aprendido o catecismo com os franciscanos, resolveu esculpir uma imagem de Nossa Senhora para a capela que existia naquele lugar.

Inteligente, artista, o índio modelou a imagem, faltando, apenas, fazer a cabeça. Mas por mais que pensasse, não conseguia reproduzir o perfil da Senhora com a beleza que desejava que tivesse.

Tito Yupanque ficou muito triste, quase desesperado. Orava, continuamente, pedindo a Deus que lhe desse inspiração.

Certa noite em que conduzia o seu rebanho de lhamas, viu à sua frente uma luz estranha, uma luz muito forte que quase o cegou. Tito Yupanque caiu de joelhos e percebeu de que maneira deveria esculpir a cabeça que faltava à imagem que fizera.

Atirou-se ao trabalho e concluiu a imagem, que ainda hoje se encontra na bonita Igreja de Nossa Senhora de Kjopakavana, na margem do grande mar interior dos Andes, o Lago Titicaca que une o Peru à Bolívia.




































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Nossa Senhora da família

e das artes








Foi imensa, tem sido enorme a influência do culto de Nossa Senhora em benefício da humanidade e da civilização, a principiar pelas transformações a que deu origem na própria constituição da sociedade, na própria maneira de encarar o papel da mulher no mundo.

Rebaixada pelas leis civis a uma tremenda inferioridade moral, mais acentuada no Oriente, onde, na verdade, não passava de simples instrumento, mas bem latente no Ocidente, onde sua posição pouco passava da de simples serva do homem, a mulher elevou-se, dignificou-se, passou a desempenhar a sua verdadeira missão, após o advento do Cristianismo, especialmente em conseqüência do culto de Maria.

Mesmo entre os judeus, onde a mulher, contrariamente ao que sucedia aos demais povos da antigüidade oriental, já era olhada com deferência e possuía dignidade; mesmo entre eles, foi após Maria que a mulher viu ampliada a sua dignidade, teve crescidas as suas prerrogativas.

A filosofia e a poesia antigas, partindo da falsa primícia da incapacidade moral e da malícia feminina, justificaram ou procuraram justificar, de permeio com os legisladores e os governantes, a situação quase degradante a que as suas respectivas civilizações relegavam a mulher.

Com Maria, porém, a mulher se elevou. Com Maria ganhou dignidade. Com Maria passou a ocupar nas sociedades o lugar que realmente deveria ocupar.

Como disse o Abade Maynard no seu livro “A Santíssima Virgem”, “a obra de Redenção havendo começado através de uma mulher, Maria, à mulher foi desde logo aplicada”.

A mulher parece ter sido dos primeiros entes a serem chamados por Aquele que disse:

Não vim chamar os justos, os ricos, os fortes, mas os pecadores, os pobres, os fracos.

São tocantes as páginas do Evangelho onde aparecem mulheres pecadoras ou infelizes, perdoadas ou consoladas por Jesus.

Libertada pela religião cristã e pelas leis que a religião inspirou; elevada, dignificada, a mulher, por sua vez, elevou a família a que deu uma nova orientação e uma dignificação toda nova, passando a exercer sobre os componentes de um lar a sua influência benéfica.

Mas Nossa Senhora, Mãe de bondade e de pureza, protetora da família, é, também, a Mãe de tudo quanto o espírito humano possui de mais belo, de toda a capacidade criadora do homem.

A influência do seu culto não poderia deixar de se fazer sentir, pois, naquilo que o espírito do homem tem produzido de belo e puro, ou seja, no largo mundo da criação artística em suas variadas manifestações e modalidades.

Os primeiros esforços, os primeiros ensaios artísticos do mundo dirigiram-se para a representação de heróis e divindades pagãs. Com o Cristianismo, passou, Maria, encarnação de tudo quanto é belo, a ser um grande motivo de inspiração.

Os maiores poetas do mundo dedicaram à Mãe de Deus o melhor de suas obras e de sua inspiração. Seria fastidioso enumerá-los.

Mas aí estão, comprovando o que dizemos, Dante, Petrarca, Tasso, Cervantes, Camões, Goethe - Goethe que escreveu estas palavras tão expressivas:

... “Maria é a idéia e a forma nova. Ela é tudo! Sem ela não teríeis
Arte, não teríeis nem Dante, nem Rafael !”.

Rafael... Oh! As maravilhosas imagens da Virgem, cabeças da Virgem, pintadas por Rafael ! Oh! As maravilhosas obras dos grandes mestres da pintura universal tendo como motivo Nossa Senhora !...

E da pedra bruta e da madeira espessa, arquitetos magníficos, toreutas maravilhosas, fizeram monumentos eternos à glória da Virgem Maria, elevando algumas das belíssimas catedrais do mundo, consagradas à Mãe do Salvador.

Aí estão, impressionantes na sua majestade, as maravilhosas Igrejas de Nossa Senhora de Paris e Nossa Senhora de Reims – apenas para citar dois belíssimos monumentos à glória da Virgem Maria, entre centenas que se encontram espalhados pelos quatro cantos do mundo.

Aí estão os mármores e bronzes preciosos que retratam a Senhora em diferentes fases de sua vida, aí estão as imagens que ornam os altares de todos os templos católicos. E em todas elas e todos eles Nossa Senhora tem o mesmo ar de bondade e de meiguice, o mesmo ar de misericórdia e de perdão que se nota nas imagens pintadas por São Lucas que foi o primeiro pintor da Mãe de Deus, o primeiro a retratar a sua face adorável, tão graciosa e tão pura.

Com fé ou sem fé, nunca houve quem não se comovesse, não se emocionasse, não sentisse dentro de si mesmo algo de diferente, algo de puro, ao contemplar uma dessas maravilhosas imagens da Mãe de Jesus onde tudo o que é puro, tudo o que é belo, tudo o que é digno, nobre, elevado e santo, parece estar sintetizado.

As ondas de materialismo grosseiro que se chocam contra algumas terras infelizes; o trabalho desgraçado e miserável dos que procuram destruir no



homem o que o homem possui de mais digno, jamais conseguirão vencer a força que existe no simples olhar de Maria, jamais conseguirão vencer totalmente, porque o puro sempre triunfará, finalmente, sobre o impuro e a luz sempre vencerá a treva. E Nossa Senhora é Luz, e é Pureza. E Maria Santíssima, rainha das nações, rainha de todos os povos, jamais será destronada. Mesmo nas infelizes regiões onde o materialismo parece haver triunfado, Ela continua a ser cultuada, claramente ou às escondidas, no subterrâneo dos corações-catacumbas do corpo humano, catacumbas do mundo moderno que hão de vencer, como as outras, as da velha Roma, os que perseguem aquilo que com o seu sangue o Cristo construiu e que, por isso mesmo, é indestrutível.





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O mês de Maria







MAIO, O MÊS DAS FLORES, de céu azul e translúcido, é o mês da flor mais linda e mais pura que o mundo jamais conheceu, é o mês de Nossa Senhora, especialmente reverenciada, em todo o universo, nessa época do ano.

A origem da devoção do Mês de Maria remonta, ao que nos consta, aos tempos de São Felipe Néri que muito se entristecia, verificando que em Maio, tempo primaveril na Europa, os jovens se entregavam a excessos, na época em que ele viveu.

O santo sofria muito vendo as impiedades que se praticavam, os erros que eram cometidos durante a estação das flores.

Um dia, em que se encontrava imerso em profundos pensamentos, mesclados às fervorosas orações que costumava fazer, teve uma visão: Nossa Senhora lhe aparecia e o convidava a santificar o mês de Maio por um cadeamento de devoções em Sua honra.

Felipe obedeceu, traçando imediatamente um plano ou uma regra para o mês indicado, assinalando, para cada dia, os cânticos, as orações, as litanias e convidando à freqüência aos sacramentos, notadamente ao eucarístico.

Aconteceu isso no décimo sexto século. Mais tarde, a idéia ou o plano de São Felipe Néri tomou grande desenvolvimento em vários países, tornando-se prática universal depois de 1815, a partir da data em que o Papa Pio VII resolveu intituir bênçãos e indulgências especiais para os que, de coração contrito e com verdadeira fé, assistissem às cerimônias do mês de Maria.

E como são lindas as cerimônias desse mês tão lindo ! Quem não as conhece? Quem já não presenciou alguma? Quem já não viu a imagem da Virgem adornada de flores, as igrejas, grandes ou pequenas, suntuosas ou modestas, cheias de luzes, o incenso perfumando o ambiente, os cânticos das ladainhas e hinos e as cerimônias litúrgicas tão bonitas, tão expressivas, tão confortadoras, enquanto vozes de órgãos e vozes de cantores sobem para o céu?!

Várias peregrinações são realizadas nesse mês, em diferentes países a diferentes lugares. Em nossa terra a Basílica de Nossa Senhora Aparecida, no município de Aparecida do Norte, Estado de São Paulo, vê acrescido, em maio, o número de peregrinos que ali comparecem para homenagear a Mãe de Jesus.

Ela deve sentir-se feliz, a Senhora, vendo que nesse mês aumentam as visitas aos templos e que o seu santo nome é mais invocado.

Com que alegria deve receber as homenagens que lhe são prestadas, ouvir as preces que lhe são dirigidas, os pedidos que lhe são feitos !

Todas as autoridades religiosas proclamam o bem que faz a presença às cerimônias do mês de Maria, as graças que advém da freqüência a essa verdadeira grande festa para o espírito que se realiza em maio de cada ano!

Nossa Senhora, figura de singular beleza espiritual na Igreja, porque ninguém melhor do que ela amou e serviu a Deus; Nossa Senhora é, por isso, nosso caminho, nossa guia, nossa esperança ! É certo que ela é uma criatura, mas criatura excepcional, a mais bela que Deus criou ! Amando-a, venerando-a, esforçando-nos por seguir-lhe os magníficos exemplos de virtude, nós prestamos, a mais significativa homenagem a Deus.





























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Nossa Senhora no Brasil






TRAZIDO PELOS PORTUGUESES do Descobrimento, o culto de Nossa Senhora rapidamente se espraiou pelo Brasil todo, que de coração, se entregou à proteção da Mãe de Deus. Ousamos afirmar que foi dedicada a Nossa Senhora a primeira capelinha que se ergueu em terras de Santa Cruz


Imagens de Nossa Senhora estiveram presentes a vários acontecimentos importantes da nossa história de povo e nação. Em 1581, na Bahia, já existia uma confraria de Nossa Senhora do Rosário; em 1590, no Rio de Janeiro, criava-se o convento dos frades carmelitas. Imagens da Senhora caminharam com os rudes Bandeirantes que alargaram o nosso território, que fizeram as descobertas sensacionais do ouro e dos diamantes. Sob a invocação de Nossa Senhora criaram-se os primeiros povoados nas terras da mineração. Foi Nossa Senhora do Carmo, em Mariana, foi Nossa Senhora do Pilar, em Ouro Preto...

E Nossa Senhora Aparecida, padroeira, protetora do Brasil, Auxiliadora do Povo Brasileiro, Mãe de Deus e nossa Mãe, cuja milagrosa imagem lá se encontra na Basílica da Aparecida, na cidade paulista do mesmo nome, diante da qual, diariamente se dobram milhares de joelhos nos mais fervorosos protestos de amor filial?

Nossa gente foi, sempre, muito devota de Nossa Senhora; os artistas mais expressivos do nosso passado sempre encontraram n´Ela o grande tema para seus rasgos de imaginação, para os seus anseios criadores.

A Nossa Senhora do Rosário, por exemplo, templos esplêndidos foram erguidos em nossa terra. Senhora do Rosário... do rosário que faz tanto bem rezar... do rosário onde cada conta é uma afirmação de fé, uma expressão de saudade, uma palavra de solicitação. E como é bela a história do rosário !









Havia, outrora, no oriente, o costume de oferecer às pessoas a quem se desejava demonstrar veneração ou admiração por algo de especial que houvessem feito, uma coroa de rosas. Os primeiros cristãos adotaram esse costume e com coroas de rosas adornaram imagens de Nossa Senhora.

São Gregório Nazianzeno pensou, um dia, em substituir as rosas por uma coroas de preces, formando uma fileira de louvores à Santíssima Mãe de Deus. Um século mais tarde, Santa Brígida, padroeira da Irlando, substituiu os louvores de São Gregório por outras orações, ainda mais belas, porém mais simples, mais ao alcance de todos, como o Símbolo dos Apóstolos, a Oração Dominical e a Saudação Angélica.

Para fixar a atenção e o espírito na oração, ela seguiu o costumes dos anacoretas da Tebaida, enfiando, no mesmo fio, pequenas pedras ou pequenos grãos, compondo, assim, os Credos, os Padre-Nossos e as Ave-Marias. Havia nascido o rosário, que São Domingos, mais tarde, organizou e cuja devoção propagou por piedosa inspiração de Nossa Senhora.

Foi São Domingos, também, quem criou a primeira confraria ou Irmandade destinada a propagar a devoção: a Confraria do Rosário hebdomadário. Os componentes da mesma obrigavam-se a rezar o rosário inteiro, cada semana. Lembrando sempre que, antes, o Rosário compunha-se de três conjuntos de Mistérios: os Gozosos, os Dolorosos e os Gloriosos. Com a santa inspiração do nosso querido Papa João Paulo II, advieram, fomos contemplados com os Mistérios Luminosos.

Em 1460, a confraria foi restabelecida pelo bem-aventurado Alain de La Roche, e em 1826 surgiu a Confraria do Rosário cotidiano, fundada por uma moça chamada Maria Jericot, criadora da obra denominada “Propagação da Fé”, que o Papa Gregório XVI aprovou no ano de 1832.

Em nosso país as Irmandades do Rosário são numerosas. Curiosamente, foram as preferidas pelos nossos irmãos de cor naqueles trágicos dias do Cativeiro.

O hábito de rezar o rosário é muito salutar e atualmente verifica-se intensa pregação para que seja praticado mais amiudamente, especialmente pelas famílias, esse costume que tantos benefícios traz e que, especialmente para as famílias, atrai muitas bênçãos do céu.

















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Ainda Nossa Senhora no Brasil






OUTRA DEVOÇÃO que começou muito cedo neste país, que nasceu e cresceu à sombra da cruz, é a de Nossa Senhora da Conceição em cuja homenagem, ao que nos consta, foi erguida a primeira modesta capela, no Governo Geral. Com efeito, Tomé de Souza, ao chegar à Bahia, em 1549, cuidou, de pronto, de fazer construir a Igreja da Conceição da Praia.

Em Minas Gerais, Nossa Senhora da Conceição teve templos e devotos desde o amanhecer da civilização. A mais antiga igreja mineira, a de Raposos, construída em 1690, foi consagrada à Senhora da Conceição.

Nossa Senhora da Conceição, foi, aliás, um dos grandes temas religiosos dos trabalhos do artista magnífico da era colonial brasileira, que foi Antonio Francisco Lisboa, “O Aleijadinho”. Em Ouro Preto, a cidade relicário, fica a bonita Igreja de São Francisco, num barroco primoroso.

O portal da Igreja é maravilhoso. E, acima da porta, fica um medalhão representando Nossa Senhora da Conceição, encimado por uma coroa de rainha. O maravilhoso artista em cujas mãos a pedra-sabão como que se divinizava e humanizava, deu bela expressão à imagem da Senhora.

Também Manuel da Costa Ataíde, o mais primoroso dos antigos pintores de Minas Gerais – semeador de beleza pela velhas cidades da mineração – representou Nossa Senhora em pinturas que ornam alguns templos e que constituem motivo de admiração pra quantos têm a felicidade de contemplá-las.

No dia de Nossa Senhora da Conceição, 08 de dezembro, em Piracicaba, é feriado e, aliás, convém não esquecer, foi padroeira do reino de Portugal e foi patrona de diferentes corporações de ofícios que existiram no velho Brasil colonial, como a dos moedeiros, isto é, dos operários que abriam o cunho nas moedas. No dia de sua festa, os moedeiros da Casa da Moeda da Bahia, instalada em 1694, realizavam grandes solenidades e, certamente, proferiam as palavras, diziam a prece que, neste momento, está sendo proferida por milhares de bocas em todos os quadrantes do mundo:

“Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a Vós”.


















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Ideal





SE MINAS TEVE “O Aleijadinho”, o Rio de Janeiro teve o Mestre Valentim da Fonseca e Silva, notável entalhador, autor de algumas das mais belas obras de arte que se encontram na antiga capital brasileira.

Uma das mais belas igrejas da cidade carioca, onde se apreciam trabalhos desse grande artista colonial, é a dedicada a Nossa Senhora do Carmo, na rua Primeiro de Março, onde, entre outras maravilhas, se destaca a belíssima Capela do Noviciado, iniciada em 1772.

A Sra. Nair Batista, que estudou a obra de Mestre Valentim, diz que “toda a obra de talha da referida capela foi executada por Mestre Valentim, inclusive o altar-mór e o altar lateral”.

O altar de Nossa Senhora das Dores, nessa Capela do Noviciado é dos que mais prendem a atenção, sendo impressionante a expressão de sofrimento da Senhora.

Mestre Valentim, filho de um fidalgote português e de uma escrava foi levado para Portugal pelo pai e de lá regressou, órfão, jovem ainda, aprendendo no Rio a arte torêutica e a escultura, tendo sido autor de belos monumentos ainda hoje conservados em alguns logradouros do Rio.

Compreenda-se bem que não se tem a intenção de estabelecer paralelo entre O Aleijadinho e Mestre Valentim, pois o Aleijadinho é único, é incomparável, não tem similar: é o Mestre absoluto.

Outro tesouro artístico do Rio, tendo como tema central a Mãe de Jesus é a capela de Nossa Senhora da Vitória, na Igreja de São Francisco de Paula, no Largo do mesmo nome.

Genial pintor colonial, nascido escravo, Manuel da Cunha é o autor da belíssima pintura do teto, além de seis cenas da vida do santo padroeiro do templo. Essa capela, no rendilhado de sua decoração, lembra algumas igrejas históricas de Minas.

Mas façamos ponto aqui; este volume seria insuficiente se quiséssemos enumerar todos os bonitos templos erguidos em nossa terra à glória de Maria e digamos, rapidamente, alguma coisa sobre os Congressos Eucarísticos que têm tido em Nossa Senhora uma grande protetora.

Maria Marta Tamisier, grande devota do Coração de Jesus, alimentava um grande ideal; ver Jesus na hóstia consagrada ser adorado pelo universo inteiro.

Em 1872 dirigiu-se ao Padre Chévrier, na cidade francesa de Lião. Segundo parece, o sacerdote não acreditou muito na sinceridade da postulante. Mas ela continuou a lutar pelo seu sonho e o próprio Padre Chévrier passou a encorajá-la. Um dia, o Bispo Mermillod disse a Maria Marta que para desenvolver a sua idéia seria necessário um “Congresso Eucarístico”.

Era a palavra que faltava, era o termo exato: Congresso Eucarístico ! Possuída de novo ardor e já agora incentivada por várias pessoas, Maria Marta, grande devota de Nossa Senhora, continuou a trabalhar e obteve a aprovação do Papa Leão XIII para a iniciativa. Em Lille, a 28 de junho de 1881, realizou-se o primeiro Congresso Eucarístico Internacional.
De então por diante esses Congressos – sempre oferecendo benefícios e ocasionando numerosas conversões – têm progredido muito. Maria Marta Tamisier, que faleceu com fama de santidade aos 76 anos de idade, teve a grande felicidade de contemplar o triunfo do seu grande sonho, de perceber que Nossa Senhora aprovava e apoiava a idéia que tivera de ver Jesus universalmente adorado no Santíssimo Sacramento da Eucaristia.










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As Congregações Marianas






Pensamos ser lícito qualificar Santo Inácio de Loiola como pioneiro ou precursor das Congregações Marianas – associações de homens e mulheres que tanto bem espalham em todo o mundo – pois sabe-se que o Fundador dos Jesuítas teve uma associação que se reunia semanalmente e que socorria os enfermos, dava esmolas, obedecia a certas ordens.

Em maio de 1556, apresentou-se a Santo Inácio, em Roma, vindo da Bélgica um moço chamado João Leunis, que desejava ingressar na Companhia de Jesus, pretendendo ser missionário na Índia, sonho que não poderia realizar devido às suas condições de saúde.

Ingressando na Ordem dedicou-se, desde logo, à nobilitante tarefa de educação da mocidade, realizando, assim, uma parte do ideal que o animava.

Um mês depois de sua morte, ocorrida na cidade eterna em novembro de 1584, o Papa Gregório XIII confirmava a fundação da Congregação Mariana de João Leunis, realizada no ano anterior.

Em 1564 era elaborado um Estatuto. Em 1587 o Geral da Companhia de Jesus, devidamente autorizado pelo Papa, estabelecia as Regras da Congregação Mariana. As Congregações Marianas começaram a multiplicar-se; onde existia uma juventude idealista e temente a Deus, ali nascia uma Congregação Mariana. Mais tarde já não eram só os estudantes. Vieram pessoas de todos os estados e classes sociais. Os colégios disputavam a primazia de possuir suas Congregações Marianas, que eram essencialmente masculinas.

O que se costumava fazer mais comumente era admitir nas Congregações Marianas masculinas, por especial privilégio, uns poucos representantes femininos da mais alta nobreza: por exemplo, a imperatriz da Áustria, a rainha da França. Mas é preciso frisar que essas raras Congregações Marianas femininas primavam por um fervor realmente exemplar.

É ainda Antônio Maia que conta haver sido a concessão para a fundação de Congregações Marianas femininas provocada pelo Pe. Vespasiano Trigona e outorgada pelo Paca Benedito XIV.

O elogio dos altos méritos das Congregações Marianas Femininas foi feito pelo Papa Pio XII, em 1951, nestas palavras que copiamos do trabalho de Antônio Maia:

“Razão gratíssima temos hoje para dirigir-vos, amadas filhas, uma palavra especial de animação. Comemorais este ano o segundo centenário do Breve Quo Tibi: com ele nosso imortal predecessor, Bento XIV franqueou as portas da grande família da Prima Primária às senhoras e às Congregações Marianas femininas. Inovação providencial foi esta, com efeito, se a exclusividade serviria durante dois séculos para dar maior solidez à vida e às atividades das Congregações Marianas, a transformação da sociedade ia conferir à mulher uma função diferente, é verdade, mas comparável, em força e amplitude, à dos homens.

Com esta feliz extensão nenhuma alteração se introduziu no caráter próprio que as Congregações Marianas tiveram desde a sua origem. As Congregações Marianas não abrandaram suas exigências para colocar-se ao alcance do elemento feminino; foi este, pelo contrário, que se elevou a altura das Congregações Marianas, enriquecendo-as com suas precisas energias”.

As Congregações Marianas sofreram perseguições, calúnias e ofensas dos que sempre tentaram combater a fé, combater Jesus, combater a Igreja.

Mas de todas as infâmias, de todas as misérias, de todas as calúnias e afrontosas perseguições souberam livrar-se elas. Na verdade, perseguições somente serviram para fazer aumentar mais ainda a fé e a dedicação dos congregados marianos de ambos os sexos que sabiam estar de seu lado a Verdade e a Justiça, que sabiam estar protegidos pelo Céu, que sabiam que jamais a mentira pode triunfar ou o mal vencer completamente, eternamente, o bem !

Em nossa terra surgiram bem cedo, desde o alvorecer da pátria, praticamente, as Congregações Marianas que hoje reúnem muitos milhares de brasileiros pelos quatro cantos da pátria.

Antônio Maia diz no seu interessante trabalho que “a primeira Congregação Mariana canonicamente ereta no Brasil, tem a patente de agregação datada de 8 de agosto de 1586, pois Dom Antonio Barreiros, considerando a Congregação Mariana do Colégio da Bahia como obra de suma importância, quis aprovar e incentivá-la oficialmente”.

São Paulo não tardou a seguir o exemplo da Bahia e as demais regiões do Brasil fizeram o mesmo, em pouco tempo, à medida que se desenvolviam.

Em maio de 1937, quando se realizou no Rio de Janeiro a primeira Concentração Mariana Nacional, mais de 10.000 congregados estavam presentes, além de vários Bispos e outras autoridades religiosas, havendo sido fundada, então, a Conferência Nacional das Congregações Marianas do Brasil.






Pertencer a uma Congregação Mariana, a uma Associação de Nossa Senhora, é honra que todos, crianças, jovens, adultos, idosos, podem aspirar, pois, sobre todos, em farta messe, descerão as bênçãos especiais de Maria Santíssima, a doce Rainha do Céu, Rainha da Paz, a Aparecida, Auxiliadora do Povo Brasileiro, Mãe de Misericórdia, cujo olhar de infinita bondade acompanha, sempre, a pobre humanidade.


Maria concebida sem pecado,

rogai por nós que recorremos a Vós.




























Agora, a nossa reflexão mariana se encaminha para “Maria de Nazaré, Maria me cativou”, que o povo de Deus já se habituou a cantar. De muitas e variadas maneiras vai se encontrando com a querida Mãe de Deus e nossa.

A confiança do povo é rica nas suas manifestações porque é grande o carinho para com a Mãe. Carregam Maria no coração, pelo amor que sentem por Ela; carregam Maria na vida, buscando imitar seus exemplos; carregam Maria nos ombros, em tantas festas e procissões em louvor à Virgem Santa.

Na seqüência, transcrevemos diversos textos que querem ser manifestações de carinho para com nossa Mãe do Céu. Esta composição abrange diversos temas. Cada um deles aborda uma diferente manifestação de carinho, uma diferente maneira de se dizer o grande amor que temos por Maria.

Assim por exemplo, encontramos uma palavra sobre os títulos marianos, que são tantos, e, principalmente sobre a maternidade divina de Maria. Encontramos, do mesmo modo, explicações sobre o terço e sobre o exemplo de Maria para nossa vida de cristãos.

E como a querida Mãe está presente em todos os momentos de nossa vida, podemos encontrar aquilo que diz a música popular e literatura sobre aquela que é nossa Medianeira em todos os momentos. Assim, juntamente com Ela, poderemos também cantar:

“A minha alma engrandece o Senhor,
Exulta o meu espírito em Deus meu Salvador” (Lc 1,46-47).






“Maria, Terror do inferno,
fazei frente a nossos inimigos
em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo,
pela Vossa Maternidade Divina. Amém.












Bibliografia

“Breve História das Congregações Marianas” - Antônio Maia
“Maria, Terror do inferno,
fazei frente a nossos inimigos
em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo,
pela Vossa Maternidade Divina. Amém.